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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Retorno

Somente depois de ter andado por terras estranhas

É que pude reconhecer a beleza da minha morada.

A ausência mensura o tamanho do local perdido

Evidencia o que antes estava oculto, por força do costume.

Olhei minha mãe como se fosse a primeira vez,

Olhei como se eu voltasse a ser criança pequena

A descobrir-lhe as feições tão maternas.

Abri o portão principal como quem abria

Um cofre que resguardava valores incomensuráveis.

As vozes de todos os dias estavam reinauguradas.

Realizar a proeza de ser gerado de novo.

Suas mãos sobre os meus cabelos pareciam devolver-me

A mim mesmo.

Mãos com poder de sutura existencial...

Era como se o gesto possuísse voz, capaz de dizer:

Dorme meu filho, porque enquanto você dormir

Eu lhe farei de novo.

Dorme meu filho, dorme...


Padre Fábio de Melo 

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